24.2.16

Miragem

Do chão molhado do apeadeiro
um vulto esguio serpenteia
entre as poças de água.
Traz o nada a tiracolo
e um chapéu flamante.
Distraído
pisa uma poça de água.
Os respingos atingem um velho por perto.
Impassível
o velho continua a ler o jornal amarrotado.
Vejo o vulto cowboy a pedir desculpa
e o velho inerte.
A voz que soa no apeadeiro
avisando comboio em alta velocidade
traz-me de volta à terra.
Não chovera
o chão do apeadeiro não estava molhado
não havia poças de água
nem o vulto adejando um devaneio.
Só o velho e o jornal amarrotado
vieram a palco.
E eu
que, por mais que tente,
não passo de um arremedo de miragem.

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