4.2.16

Da arte malsã

Os bichos
ao menos não tresleem.
Não se incomodam
com políticas coisas
que adulteram o autêntico.
Não falseiam nem mentem.
Não navegam em desleais águas.
O mesmo
mutatis mutandis
vale para as pedras amontoadas nas serranias
as árvores que esperam o tempo
os paus perdidos
o ar que povoa o ar
os demais elementos da natureza
as telhas de uma casa
todo o metal fundente nas siderurgias.

Já certa gente,
que por gente ser
se apruma antropocêntrica,
bolça metal fundido em oxidados sentidos
abriga telhas de vidro no compasso das lições
torce o braço à natureza
polui o ar que lhe é dado
e dos paus
o mais que se afigura
é ser seu dorso merecedor de açoites.
Certa gente
tão sequiosa do centrípeto trono
que suga as árvores por dentro
dissolve as pedras à volta
mata as águas onde se banha.
Mente e falseia
com os dentes todos
que divindades compassivas ainda lhe conservam.
No dicionário que habita
lobriga na falsidade
na ludibriosa hermenêutica
ou não fosse gente assim política personagem
habituada a desdizer sem corar
nem que lhe caiam os dentes que ainda tem.

Não admira
que gente assim
não goste de animais.

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