16.2.16

Ignição

A areia fina
tece dança peregrina.

As rochas molhadas
não ficam cansadas.

Um par de luvas esbanjadas
a meio das escadas.

A garrafa deitada ao mar
por um marinheiro irregular.

A noite dormida
num sonho de druida.

A roda dentada
na nora alquebrada.

Cachos de podres uvas
já sem férteis chuvas.

Um gato semicego
a caçar um morcego.

Trinta odes deixadas em hibernação
por falta de inspiração.

E no dia seguinte
já não há acinte.

Apesar da alma poluída
por gente puída.

O mar andante
sepultura do mareante.

A maçã do rosto suada
pela partida pregada.

Um rosário de resoluções
deitadas a amanhãs paredões.

As tocas fundas
das lobas fecundas.

Cobertores gastos
ajeitam os mostos.

Cães vadios protestam
ao relento que desgostam.

Mal sabem as deitadas crianças
que o sono é a casa das esperanças.

Votam futura insubmissão
em brancos votos sua missão.

E reaprendemos os sentidos
enquanto a lua cala os gemidos.

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