Guardo o sal de mim
na tarde sentida
mercado sideral na marca do tempo
libertação na casa sem morada.
Soa o poema altivo
na luminosa coalescência da memória
sem o estorvo da palavra doída
enquanto nas ruas apanho os logros caídos
em cachos sem fruto.
Soo ao genuíno que habita em mim
promessa por prometer
prosa atapetada no lume diurno
a palavra docemente diuturna.
Coabito na cidade sem nome
arrematando os versos de estio
fecundos, solares,
o maravilhoso estado de insubmissão nunca tardia
contra o contratempo basilar.
Não é a noite do tempo
que congemina o abcesso da ideia
nem capitulo na fortaleza das palavras sem inventário:
dissolvo as certezas
na solução preparada com perícia
pelos tutores involuntários da incerteza
que se constrói no parapeito da grandeza.
Não quero dos cientistas fogosos saber
não quero ter em mão
os gongóricos penhores de cátedras
avulsas ou não
que em meu peito guardo
o não distinto
a profunda curiosidade pelo indeterminado
e às janelas deixo ondear o verbo corrigido
a mealha aveludada que arroteia saber
o renascer embebido em cada dia nascente.
Não me escondo
se não das certezas afiveladas
e dos seus infalíveis tutores.
Vocifero o catastrófico assentar de obra
(que nunca seja tida como definitiva).
E combino com o porvir
descer aos confins da consciência
(se preciso for)
para cuidar das impurezas que se orquestram
entre as palavras milimétricas
dos puerilmente eruditos.
Respiro esta incerteza heurística
oxigénio cabal onde me multiplico
na tentacular rede que aspira
ao grandioso estatuto dos que tudo interrogam.