13.4.16

Carta na manga

Bastam-me os botões de punho
as areias movediças
na tela escura do cinema
ou a praia acobreada pelo entardecer.
Bastam-me canções fugidias
olhos entaramelados pela chuva macia
fatias brandas de um bolo
ou a colher de um anjo sobre a mesa.

Não quero
se não o património a mim vindo
as pratas embolsadas com suor
a estirpe cuidadosa de um ano solar.
Não quero
se não as espadas desafiadas
os bolsos cheios de mãos verrinosas
e, à outrance, o desdém a quem o merece.

Todavia,
se o entardecer vem embaciado
e os olhos se entaramelam mais
convoco um oráculo à mão de semear
e moo as inquietações que doem.

Todavia,
se cicatrizes por fechar houver
enquanto se verte o chá quente na chávena
desembolso a maquia precisa
encerro a polémica no fuso da indiferença.

Pois não há mangas alvares
que usurpem as horas vagas
nem excruciantes personagens
cativando saliência;

pois o que há é um império ditado
de dentro das bainhas da alma
onde os almocreves da tarouquice
não têm lugar à mesa.

Sem comentários: