19.4.16

Juras em falso

Enquanto jurava aos céus
devolver com juros as tiaras furtadas
cruzou os dedos.
Cerziu as juras
as solenes e as outras
(as juras todas)
até cansadas as promessas ficarem.
E depois
Ficou à espera que o vindouro
fizesse cais
à espera que as juras
tivessem palco.
À espera.
Não ocorreu ponderar
que os limites das juras
não pertencem às fronteiras do tempo.
Jurou
depois
que faria novos alinhavos às juras
mal as anteriores perecessem
nos malnascidos desmentidos.
Não aprendeu nada.
Podia
ao menos
jurar que nunca mais jurava.
Não podia:
a desmemória quadrava com as andanças
sem cuidar de lamber cicatrizes
de feridas de que nunca dera conta
à exata medida da mitomania
(de si mesmo).
A cada juramento
uma estocada por dentro
até às entranhas
remoendo as rugas do rosto
olhando-se ao espelho sem ver um intrujão
liquidando as lágrimas
que pudessem ser vertidas.
Acusavam-no de:
falta de decoro;
juras militantes
de alguém a fugir da sua pessoa.
E ele prosseguia pelo tempo fora
indiferente
como se fosse surdo aos vitupérios.
Continuava a jurar.
e a saber
por dentro das entranhas
que cada juramento
era a jura do seu oposto.

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