11.4.16

Causa provável

1.
Dias claros
a lentidão dos processos
beijos a rodos em incandescência
um frémito no meio do silêncio cavernoso.
E os pássaros sem gorjeio
voando na direção do firmamento.
De que foram testemunhas
para estarem de atalaia?

2.
O fojo esconde o fugitivo.
Não se sabe do que foge
a não ser
talvez
dos fantasmas acobreados
que amedrontam a noite
e tiram lugar ao sono.

3.
O mar madraço
atira algas contra o areal.
O rapaz atira um ramo seco ao cão
e aprecia a languidez do mar
retomando, de cor,
a inquietação das ondas
atestada pelos despojos da tempestade.

4.
Ao entardecer
combinam-se as juras para depois.
Descem as cortinas do dia,
do dia claro,
e juntam-se a eito
os frutos entesourados.

5.
Por dentro do luar
como se houvesse um leite retido na lua
escrevem-se estrofes dedilhadas ao acaso:
não sobra nada
no demais que se sopesa
nos braços cansados.

6.
Na noite funda
o corpo contorce-se no fastio do sono.
Deixa de sentir os sentidos
enfeitiçado pelos sonhos prometidos
por jograis que domam o almanaque.
Oxalá
fossem todas as noites
campestres paisagens com o odor da planura
um selo pintado com as cores da beleza.

7.
Os sonhos ensaiam em seu palco.
Afivelam as bainhas do porvir
incensando a lareira
onde crepitam corações desatados.
Os sonhos
não sabem de cor é o vidro
por onde espreitam os olhos.

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