20.4.16

Esteio

Resgatado o fio de prumo
aos escombros da cidade,
tomámos a manhã nas mãos.
Metemos as cores desembaciadas
enfeitada a manhã
com as palavras vasculares
e os doces gestos no rosto.

Desautorizámos
as pedras pontiagudas
os lastros pesados
as guias de conduta vetustas
os rumores entoados por almas invisíveis
as preces vazias ditas no adro
os dados mostrando números quadrados.

Em sua vez
demos alfândega
ao vermelho carregado com suor
às flores campestres selando formosura
aos bolsos cheios de uma água de estio
aos braços que não se cansam de amplexos
aos beijos não enjeitados de lábios carnudos
ao mar vadio que temos entre as mãos.

O fio de prumo,
já fiel tutor da simetria dos sentidos,
desalinhou os vieses pela proa
precatando o temor sensato
entre duas mãos cheias de impudor.
Tirámos à sorte o esteio aprumado:
soubemos de um fado singular
povoado por olhos marejados
de tão telúricos pés arrojados
num santuário com pérgulas de ouro.

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