6.4.16

Pas de deux

A vingança da borboleta
que se fez larva
e se botou formosura.

O esteio da barca
roubado a uma árvore
e se levitou nas águas.

A nuvem demorada
abraçada à evaporação
e se devolveu à terra, chuva.

O rosto macilento
evocando maçãs extemporâneas
e se deitou no leito de morte.

Um beijo que arde nos lábios
carne quente sopro de desejo
e se arrefece nos lençóis desarrumados.

Um infante balbuciante
química congeminada
e se fez fiador do desamor.

As facas que se empunham
terçadas contra a romagem aos túmulos
e se fizeram cortantes na carne húmida.

As palavras tingidas
no dobrão das tintas fumegantes
e se fizeram cores de um vulcão.

As preces tementes
num medo castrador
e se transfiguram em mortuário sedativo.

A terra pesada
na inércia dos dias sem contagem
e um poço em que gravitam nascituros.

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