29.4.16

Copo de cerveja

O copo de cerveja
fundeia nos pensamentos.
Rejubila
no tempo gasto sem serventia.

Ao lado
duas velhas que fingem pergaminhos
comentam a atualidade cor-de-rosa.
Deixei de as ouvir
anestesiado pelo sol
que a primavera (que se fez) tardia
outorga.

A espuma da cerveja fica rarefeita
e os meus dedos embebem-se
no frio do copo alto.
Deixei de saber
se as horas de ócio eram apenas ócio
(com o reprovável fingimento a adejar)
ou se o ócio é a caução de uma certa
pureza.

Mas isso era ao início.
Pois não adianta apressar a pressa
que o tempo tem o mesmo compasso.
Não adianta forjar empreitadas
jurar resoluções solenes
atirar planos para cima do estirador
medir o tempo em falta
com o medo de o tempo se esgotar
pois depressa esgota antes de tempo.

Decidi
arrancar o relógio de dentro do peito
para o peito se abrir num clarão de liberdade
e os temperos dantes asfixiados
a tutores de tudo serem empossados.

O copo de cerveja pode esperar
se preciso for.

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