Três são as
patas do gato no chão,
o malabarista.
O canto do tenor
ouve-se em surdina
e as palmas
guardam-se para a véspera.
Dantes
quando tudo era
límpido
as mulheres não
assobiavam
e ninguém
coabitava em regaço atávico.
Os gatos miam
alto
reféns de seu
cio
ao passo que os
comboios
gorjeiam em cima
dos carris
os murmúrios de
que não há penhor.
Dantes
só tínhamos
morangos sedosos
livros
com páginas amarelecidas
e letras grosseiras
sapatos
exasperantes
e a lividez do
inverno intransigente.
Os tapetes
cardados à entrada das casas
cuidavam dos
forasteiros
no desvelo de
hóspedes impantes.
As pás dos
hélices
já traziam cura
para o sal
e bênção suprema
do bispo da ordenança
(por interposta
pessoa: dom divino).
Dantes
os ministros da
servidão
escondiam-se no
seu pudor
sem cartas
trunfadas para jogar.
As rosáceas
extravagantes
prendiam-se à
lapela dos cavalheiros
mm linguagem
cifrada do deboche.
Pois dantes
o deboche era
proibido
e só se fazia
sob a proteção das trevas.
Não havia
penumbra sobre as cores
não havia
grandes aceleradores do tempo
nem um mapa que
ampliasse o granulado do olhar
ou uma lâmpada
duradoura em intenso incensar.
Dantes era
dantes
e agora é sinal
que saltamos as barreiras do tempo
sem mortificação
da nostalgia.
Dantes
não importa.
Os dentes
cerrados elaboram um clamor
pela corrente
hercúlea onde se abraça
o tempo das mãos
onde os amantes
se entrelaçam no sexo forte
sem peias
onde as palavras
amáveis são as que forem queridas
os rios exibem
um espelho de água sem gestos
e as pinhas
caídas ao chão
guardam os
diamantes que desabrocham
no amplexo dos
sentimentos puros.
Do dantes não
sobram imagens.
Não há museus.
Os dentes
entronizados diamantes
mordem o tempo
que importa
emprestam-lhe a
espessura precisa
e um murmúrio
poético soergue-se
derrotando as
baias da imperícia.
Agora
não se fala
dantes.
Agora
é império
do agora.
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