28.1.21

A profecia que ninguém viu

“Estou pronta”,

avisou, 

a profecia,

com um pé delicado porta fora

sem saber da chuva torrencial.

“Estou pronta”,

repetiu, 

a profecia,

ao notar a indiferença da audiência

assim se sabendo sozinha.

“Digo outra vez:

es-tou pron-ta!”,

silabou, 

a profecia,

com todo vagar,

a convocar a atenção

quase em súplica

– quase como se fosse preciso

desenhar em legendas

a gramática da advertência

que encorpava

a profecia da profecia.

Ninguém a ouviu.

Quando a profecia se abateu

o esquecimento de todos

embaciou o olhar

e ninguém deu a mão 

à profecia.

À profecia

que órfã ficou.

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