O burocrata
não lê poesia.
Não lê;
só lê
as detalhadas ordenanças
que estipulam o irrisório
e depois esquecem
a lana caprina.
O burocrata
não tem orgasmos
(a não ser
quando lê as ordenanças
que o conduzem à excitação
e etecetera e tal).
O burocrata
não sabe o que é o mundo
nem a cor de gastronomia forasteira.
O burocrata
usa gravatas lilases.
O burocrata
respeita escrupulosamente
a monotonia.
O burocrata
sabe de cor
os corredores do bafio
e detesta fragâncias.
O burocrata
não transige na métrica
que é o seu vocabulário.
O burocrata
hiberna.
Oxalá
o burocrata
soubesse sonhar.
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