22.1.21

O burocrata

O burocrata

não lê poesia.

Não lê;

só lê

as detalhadas ordenanças

que estipulam o irrisório

e depois esquecem

lana caprina.

O burocrata

não tem orgasmos

(a não ser

quando lê as ordenanças

que o conduzem à excitação

e etecetera e tal).

O burocrata

não sabe o que é o mundo

nem a cor de gastronomia forasteira.

O burocrata

usa gravatas lilases.

O burocrata

respeita escrupulosamente

a monotonia.

O burocrata

sabe de cor

os corredores do bafio

e detesta fragâncias.

O burocrata

não transige na métrica

que é o seu vocabulário.

O burocrata

hiberna.

Oxalá

o burocrata

soubesse sonhar.

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