14.1.21

Fojo

Sabias

em que dormitório

hibernava o biombo?

Era uma matéria venal

um esgar devolvido às sombras

penhor em causa própria

(ou penhor sem casa própria?)

a linhagem vetusta

dos sarcófagos sem paradeiro.

E, contudo,

servia-se o medo

às portas blindadas,

como se se arqueassem os corpos

e, em genuflexões pueris,

consagrassem os estultos sem armadura.

 

Sabias

que a mitologia

se consome na mentira?

Não eram verbos banais

os que chamavam a si a centelha puída.

Desarmávamos as esporas 

que amaldiçoavam os espíritos singulares,

recorríamos aos mais fundos punhais

para sangrar os mastins desaçaimados

que nos impediam de sermos libérrimos.

Na contabilidade prematura

arranjávamos as ferragens 

contra a decadência urdida 

pelos espantonautas.

 

Seria caso

para erguer uma cortina de espantalhos

antes que todo o tempo fosse tomado

por quem o desmerece.

Sem comentários: