13.1.21

Estatura

O acordar:

desembaraço as pestanas;

as sobras de um sonho

esperam à porta

vertidas num vulto

no crepúsculo em vão. 

 

Pergunto pelo dia. 

 

Os braços desarmam o torpor

o sangue sente o raiar

espera pelo rastilho

o acetinado forro da pele. 

O murmúrio das vozes

distante

emoldura as primeiras ruas

como se elas descongelassem

com o estio à medida das almas primeiras. 

 

Agora

as ruas já não têm só as árvores. 

E as pessoas

quase todas contrariadas

avançam 

contra a vontade

contra a manhã intrusa

preparam-se 

para os segredos por vir

sobem ao palco

principais atores

do dia que as tutela. 

 

Segredo um par de sílabas

detetive de meus sonhos

e levanto os corrimões que antecipam a tarde

no resgate da vontade,

procurador indigente dos pesares. 

 

Espero pelo entardecer

refém de um tempo estiolado:

nesta conspiração não tenho voz 

as espadas afiadas dançando sobre a cabeça

coreografando o vento sem algemas. 

 

Espero

que o entardecer segrede

a geografia do sonho de que sou véspera. 

Até ser um corpo passivo

amordaçado pela entrega do sono

vítima, 

ou algoz, 

do sonho estilhaçado. 

 

O acordar,

ato repetido;

ou o corpo dormente

bolçando 

um sonho 

por dentro de um sonho. 

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