23.1.21

À revelia

Digo-te

que me torno o alçapão

por onde se decompõe

a bandeira do ocaso

erradicando

os errantes dandies

que afocinham nas faldas do passado.

 

Digo-te

que não trago em mim

o avental descabido

nem me povoam

palavras desabridas

ou contextos milenares

ou me acorrento ao murmúrio contrafeito.

 

Já te tinha dito:

não contem comigo para

messianismos indigentes

farsas habilitadas por bem-postos senhores

concursos de malbaratada erudição

uma esgrima de emoções

ou palcos de gente meã

disfarçada de sociais galantes.

 

Digo-te

assim mesmo

que sou astronauta 

por dentro do império

recolhido em meu labirinto.

Toda esta simples complexidade

noite por dentro do dia

mentira contada a todas as mentiras

presa com armas de caça

pressentimento virado do avesso,

assíduo contumaz:

um poeta à revelia.

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