A grande tômbola guarda os sortilégios
em papelinhos de virtuosas cores.
O grande jogo está quase a entrar em cena.
O enredo sobe os poros da cortina
como se soubesse
que o céu é o teto
(ou o teto é o céu)
encomendando vitrais que se dão à solenidade.
As pessoas apenas murmuram.
O sangue
dir-se-ia arrefecido
corre nas veias invernais
em resgate de uma calma fingida.
O mestre de cerimónias apresenta-se
ele também não disfarça a tensão.
Agita-se, a massa,
como se um formigueiro colonizasse seus corpos
e a agitação de um mar tempestuoso
subisse pelos corrimões de onde se desprendem.
Tudo passa do tempo.
A função acabou
e a prova é o palco vazio
a plateia também vazia
um deserto que dá fala ao silêncio da solidão.
Amanhã há mais,
ouviu-se
em surdina,
na companhia do ar frio do Inverno
que saiu em socorro da noite.
na vertigem de um lapso do tempo anestesiado.
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