11.2.22

Não pisem as formigas

Não pisem as formigas

não sejam elefantes embuçados

não fujam dos endereços

onde, estiolados, 

os olhos dançam na penumbra

que levita nos interstícios do sangue.

 

Não pisem as formigas

que da avassaladora descura

fica um amargo travo às candeias fracassadas

o mosto que se subleva contra a fermentação

para esperar que tudo seja um pesadelo

e as formigas atravessem a estrada deserta.

Digam

aos que por a estrada passarem

para não serem carteiros de má morada

e num singular instante

não adormecerem a boca nas algemas do silêncio.

 

Não pisem as formigas

que os cardos dispensam elegias

e as árvores que se fundem com o horizonte

dão a luz solar como espelhos de safira.

 

Se puderem

não pisem as formigas 

– sem ser uma instalação em galeria de arte

ou uma metáfora que se alija no vento forte

antes de no mar desaguar a tempestade sem aviso.

 

Não se esqueçam:

não pisem as formigas

porque de hoje para amanhã

os lugares possam ser diferentes

e vocês se achem no da formiga.

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