Não pisem as formigas
não sejam elefantes embuçados
não fujam dos endereços
onde, estiolados,
os olhos dançam na penumbra
que levita nos interstícios do sangue.
Não pisem as formigas
que da avassaladora descura
fica um amargo travo às candeias fracassadas
o mosto que se subleva contra a fermentação
para esperar que tudo seja um pesadelo
e as formigas atravessem a estrada deserta.
Digam
aos que por a estrada passarem
para não serem carteiros de má morada
e num singular instante
não adormecerem a boca nas algemas do silêncio.
Não pisem as formigas
que os cardos dispensam elegias
e as árvores que se fundem com o horizonte
dão a luz solar como espelhos de safira.
Se puderem
não pisem as formigas
– sem ser uma instalação em galeria de arte
ou uma metáfora que se alija no vento forte
antes de no mar desaguar a tempestade sem aviso.
Não se esqueçam:
não pisem as formigas
porque de hoje para amanhã
os lugares possam ser diferentes
e vocês se achem no da formiga.
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