Durante a viagem
os contrafortes da montanha
parecem o leito da memória:
as rochas amontoadas na aridez
uns vagos tufos de flores silvestres
como se fizessem a vez dos catos no deserto.
O passado
precisava de banho-maria.
As lembranças
iam ao coldre onde armazenadas estavam
desfilando à velocidade de um TGV
como se o corpo morasse nos carris
e eles,
cortando o passado pela metade,
deixassem numa solução alcalina
as memórias em dissolução aprazada.
A cordilheira estava mais próxima.
Conseguia descrever a silhueta dos montes.
Na aridez que campeava
os arbustos rarefeitos eram a tradução líquida
do inacessível pretérito.
Apetecia
pedir o conceito de pretérito imperfeito
de empréstimo às regras gramaticais,
como metáfora perfeita de um pretérito imperfeito.
Como era de esperar,
a travessia da cordilheira deixou à mostra
um sinuoso caminho.
O planalto consecutivo
cuidaria de aplacar as dores acomodadas
dando-lhes
o sono apostado no olvido.
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