Dei sementes ao lago furtivo
os nenúfares atravessavam a margem
e do idílico fazia novelos em forma de luar.
De cada vez que o cimento pedia corda
regressava aos atávicos humores
os costumes esconjurados
em meia página de sono.
Depois
em aldeolas erráticas
subia o pulso fraco e fazia-me cordilheira
um anjo sem coroa nem domínio
fogo haurido no pedestal das vozes híbridas.
Se não pudesse saber a manhã das palavras
fugia de mim por dentro da carne tingida
o dorso curvado nas escadas desarrumadas
como se em bocejos se contivessem
as juras que dão cor ao mundo.
Todavia
as bandeiras avulsas sossegavam a mentira:
era preciso contar mentiras
até às próprias mentiras
em nome próprio ou na procuração arregaçada
para que ninguém fique em detrimento
para que ninguém
ficasse em dívida à mentira
e ela seja o trono que a todos democratiza.
Não se foge da penumbra altiva
os estilhaços advertem os sobressaltos
em contínuo
na miragem das palavras acertadas:
desenganem-se
os colonos do amanhã
os feitores de quimeras por empunhar
os embaixadores do obsoleto
os párias que perderam povoamento:
o amanhã espera a conjugação atempada
e será a vez dos apocalipses verem desmentida
a data.