24.3.16

Casa forte

O adro vigiava a noite.
No sono dos mortais
conspiravam demónios contra o rigor
da bondade.
Não tinham rosto que se visse
nem se faziam anunciar em panfletos;
sabia-se da sua existência
quando os atos tinham consumação.
Por isso
(e contra as conspirações)
patrulhas discretas
luzes sobre as trevas que acoitavam
os fingidos querubins,
protegendo o sono contra a maldade.
A noite metia respeito.
E só o cansaço das jornadas
dava caução a um sono sem medo.
Mais pelo cansaço dos dias repetidos
das canseiras pavimentadas pelas angústias
das olheiras que selavam contrariedades;
não fosse das forças exangues
o sono não tinha leito para ser plano,
sem contaminação dos rivais
que conspiravam o desassossego.
A noite tinha um perfume vazio.
Quase toda a gente
metia os sentidos em hibernação
mercê do sono em sentido.
Nem sonhavam
a contundência dos planos congeminados
pelos próceres da imprudência
pelos maestros das conspirações
os deserdados da ordem constante.
A noite frágil
era seu palco de eleição.
Os vigilantes,
tomando a torre da igreja,
tinham o adro de atalaia.
A menos que fossem vencidos pelo sono.
Ou
que descosessem as bainhas dos sentidos
e o fio de prumo ficasse do avesso.
Confundindo
bondade com maldade.

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