21.3.16

Relógio de água

Dá-me a água doce
que vive dos poros abertos.
Dá-me a água dourada
que prevalece entre as paredes fechadas.
E eu prometo que te dou
o sangue inteiro
as paisagens do mundo
o colo quente
o voar de um pássaro
as mãos cheias de terra perfumada
uns olhos ávidos de ler o teu mapa
um corpo cheio à tua espera.
À tua espera.

Dá-me toda a água
dos mares e rios e lagos
a água fria que aviva o palco sob os pés
a água quente que termina a hibernação.
A água que nidifica numa clepsidra
no oscilar cadenciado dos ponteiros
amanhecendo luz irrefreável.
A água onde metemos as mãos
E desenhamos o mundo.

Dá-me água.
De todas as cores
temperada
tingida
crisálida
efervescente.
A água padrão
a água centelha
a água aristocrata
a água sentada
a água espelho
a água nutriente
a água pendida sobre as nossas cabeças.
Água.
Maresia.
E mais água.

Água
onde nadamos de braços enlaçados
onde boiamos em forma de tálamo
onde repousamos os beijos sem demora.
Em ti
quero a água como fonte fresca
que é em mim torrente
choque térmico em semente fulgor.

Água
até num deserto,
que a fazemos brotar de nossas mãos
na quimera de as termos entrelaçadas.


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