2.3.16

Mãos desatadas

Deixa a candeia hastear-se
deixa o encantamento selar a janela
e o torpor dos corpos num incenso ímpar.

Deixa que o desejo seja imorredoiro
fonte centrípeta onde se embebe o olhar
e deixa soerguer a água clara da manhã.

Deixa sufragar os ímpetos
deixa-os fruir sem freio
deixa para trás bisturi que os congemine.

Deixa a alvorada ser a única juíza
deixa a mão estendida ao meu suor
e recolhe dele a seiva bastante.

Deixa acolher em teu seio
a fúria doce que ateia uma chama
amparando os braços quentes e insaciáveis.

Deixa
pelo meio das pétalas noturnas
colher os néctares estouvados.

Deixa as peias sobre as mãos
confere o sal da vontade sem açaime
e toma em ti o compêndio da volúpia.

Deixa ser a inteireza que te sei
e no regaço quente que é meu
faz-te soberana de um reino singular.

Pois que em deixando
deixar tudo isto e o demais
deixamos em nós mácula que é orgulho.


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