11.9.17

Erupção

Erupção perpétua
sem cinzas
só lava
a lava sem freio
comendo o chão inferior
metendo-se no mar frio
o mar frio fazendo da lava pedra.

O vulcão promitente
desprende-se das balsas meãs
faz-se senhor da sua própria alforria
e as pessoas à volta
impassíveis
medrosas
metem-se em seus pelos eriçados
à espera de complacência.
A erupção perpétua
um movimento astuto
selo de deuses sem rosto
ou de anjos transidos pelo medo
ou apenas dos mortais
cobertos pela mortalha da sua fragilidade.

E, no entanto,
na sombra da erupção
a seiva escorre pela encosta:
casas escorreitas tomadas a eito
nos jatos inspirados
a lava impressionante
carnuda
combustão
num palco embalsamado por escolares néones.

Não é abismo
nem retorcidas hermenêuticas divinas
por intermédio de sacerdotes acanhados.

A erupção
a erupção perpétua:
o lacre do desejo infundamentado
na enseada estreita
onde corpos nus se entretecem
na dança uníssona.

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