(Na televisão passa reportagem sobre a angariação
de mancebos para o serviço militar)
Diz isso,
meu filho,
diz lá
que pela pátria
fazes tudo
(incluindo o
alistamento
no já não obrigatório serviço militar).
É assim
mesmo:
pinta o
rosto com a bravura sanguínea
empresta ferocidade
às palavras que esgadanhas
em
vizinhança com as altercações na gramática,
faz pose
a tão
famosa pose militar
(aquela em
que os castrenses fincam as pernas
e deixam
uma abertura de trinta graus
entre os pés
assim apartados).
Penteia o
patriotismo esbelto
do mesmo
passo que os generais de ti fazem
carne para
canhão,
que é
eufemismo para
idiota útil.
É tudo
pela pátria
– já sei,
já o puseste
na boca com a ênfase dos fanáticos
ou com a
indigência dos lunáticos.
Adestra o
dialeto das casernas
o fedor
dos paióis
não digas “sim”,
aprende a
dizer “afirmativo”
pega nas
armas
quando os
marroquinos nos quiserem invadir
à falta de
santas guerras
ou de já não
poderes defender as colónias,
lamentavelmente
descolonizadas.
Enche-te
de carnes rijas
devidamente
musculadas
se, entretanto,
não decidires
pelo hedonismo
e nos
braços dos aloirados sumos de cevada
decaíres
no inglório
pleito da boçal pança
contra a lei
da gravidade.
Podes sempre
continuar de
pernas bem abertas,
a pose
castrense,
tão máscula,
à espera
que a pátria
te penetre numa desatenção
e por fim
descubras
que dela
foste pura meretriz,
ó jovem.
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