28.9.17

Filhos da pátria oferecem peitos às balas

(Na televisão passa reportagem sobre a angariação de mancebos para o serviço militar)

Diz isso, meu filho,
diz lá
que pela pátria fazes tudo
(incluindo o alistamento 
no já não obrigatório serviço militar).
É assim mesmo:
pinta o rosto com a bravura sanguínea
empresta ferocidade às palavras que esgadanhas
em vizinhança com as altercações na gramática,
faz pose
a tão famosa pose militar
(aquela em que os castrenses fincam as pernas
e deixam uma abertura de trinta graus
entre os pés assim apartados).
Penteia o patriotismo esbelto
do mesmo passo que os generais de ti fazem
carne para canhão,
que é eufemismo para
idiota útil.
É tudo pela pátria
– já sei,
já o puseste na boca com a ênfase dos fanáticos
ou com a indigência dos lunáticos.
Adestra o dialeto das casernas
o fedor dos paióis
não digas “sim”,
aprende a dizer “afirmativo”
pega nas armas
quando os marroquinos nos quiserem invadir
à falta de santas guerras
ou de já não poderes defender as colónias,
lamentavelmente descolonizadas.
Enche-te de carnes rijas
devidamente musculadas
se, entretanto,
não decidires pelo hedonismo
e nos braços dos aloirados sumos de cevada
decaíres
no inglório pleito da boçal pança
contra a lei da gravidade.
Podes sempre
continuar de pernas bem abertas,
a pose castrense,
tão máscula,
à espera
que a pátria te penetre numa desatenção
e por fim descubras
que dela foste pura meretriz,
ó jovem.

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