Ferve o sangue
desembaciado dos
penhores
destravado das
baias fundas
cuspindo a ira
fundida
sem atalhos profícuos
em rima
sem espinhos
dentados em dilação.
Ferve o sangue
do fundo de mim
em levas
sucessivas
com o fogo
incensado
no entardecer
vagaroso
e as veias
circundantes num esgar de dor.
Ferve o sangue
sem termómetro a
uso
nas rodas
perfeitas do dia inteiro
desagravo militante
dos pesares sentidos
a terra negra
humedecida nas mãos
e a boca expedita
que busca
palavras gentis
palavras furacão
os beijos que
adornam a ternura.
Ferve o sangue
no fogo
desalinhado
no fogo mestre
sem cadeiras por
perto
sem lastro a
medir o passo
apenas a imensa
paisagem por limite
e a vertigem da
cadência ímpar
em relógios
loucos que se fazem notar.
Ferve o sangue
e eu quero que
ferva
no desamparo dos
virtuosos
no sopé das
varandas marginais
nos mares longínquos,
prometidos
na matéria líquida
em vocábulos inventados.
Ferve o sangue
eu sei
desejo de carne
nas mãos
as veias
carnudas à boca do vulcão
na tomada de
posse de um corpo não meu
feito meu
pela combustão
de sangues ferventes.
Sei o domicílio que
é meu cais.
Sigo o rasto do
sangue fervente
o rasto de
estrelas cadentes
a pulsão indomável
do corpo meu
que meu não
parece
e se incandesce
nas achas acesas da fogueira sortilégio
a fogueira que dá
corpo aos corpos
e adestra o
demais
o vulcão
singular que é chamamento.
Ferve o sangue
sem reparo
sem justaposições
nem venenos
sem o menor
lapso nem tergiversação
apenas com o
pulso aberto
por onde se
enxameia o suor destravado
o néctar sublime
do desejo
as paredes
entrecortadas pelas mãos dadas
a inexplicável
sede dos poros abertos
na fusão
imediata dos corpos
no sangue
comummente
fervente.
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