11.12.17

Fio da navalha

Sangue bombeado
ver-ti-gi-no-sa-men-te
sensação visível de um precipício.
Em falta do toque de Midas
o Confúcio dos malogros pessoais
fogueira acesa,
as cinzas crestadas seu combustível:
abraçam-se
os demenciais fautores da importunação
em revoadas de ar tirado aos pulmões
como se não fizesse falta
à apoplexia sobrante.
A jugular apertada
liquefaz as forças
já sem resistência por palco
já sem saber sequer a respiração.
Escasseia o chão sob os pés
escasseiam os pés sob o corpo
escasseiam os esteios em tudo:
diz-se:
a tragédia tomou conta da vitória
e as vitórias embotaram as derrotas.
No fio da navalha
sob o torpedo aceso
na lava de faíscas flamíferas
o ocaso benevolente.
Aceitam-se os modos esvaziados do ser
na penúria dos desenganados
com a caução dos inverosímeis indigentes
e a sua desatração por tudo.
Ao fio da navalha
vem a carne abraçada 
dos promitentes mastins do desdesejo.
Desça a navalha
já não tem préstimo o seu simples fio.
Os progenitores dos infaustos palcos
desembaraçam-se das teias-labirinto
e rejubilam.
A eles pertence a última palavra.
A eles
o trono incontestado
onde se expõem
galanteadoras
as navalhas já sem seu fio.

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