3.12.17

Portanto

Ouço
o ciciar do vento estouvado
nos degraus dementes
da noite couraçada:
tiro as cortinas das varandas frias
e espreito no canto do olhar
o segredo de uma estrela efémera.

Ouço
os cantos rendilhados
de sereias sem rosto:
desconfio dos prementes pedidos
da comiseração arrematada
dos cultores das estrofes assentadas
por defeito meu e só meu
ou incapacidade de propósito.

Não ouço
o rumor abraseado nas paredes malquistas
o clamor sentido das almas penhoradas;
prefiro a pele desbotada à espera de cor
a tela imperfeita no profícuo pesar
e as palavras bondosas que se ouvem
no desmaiado entardecer.

Sem comentários: