Sou feito
da trovoada
que medra em mim
desta matéria
explosiva
constelação
onde todas as estrelas
se aninham
o lago amplo
com nenúfares de ornamento
a palavra
vertida num cálice
forrado com
a alma sem freio
a convulsão
labiríntica
e a seguir
o céu plano
de onde
irradia a claridade sem embaraços.
Feito
desta matéria
visível
e da que
invisível se esconde
nos
contrafortes da montanha desemparedada
da matéria
que busca alimento
nas águas
velozes dos regatos
onde a
neve tardia se fundiu.
Sou feito
da chuva
sibilina
e dos prístinos
lugares
onde os
ossos aprenderam a ser
a funda, estrutural
matéria
versada nas
estrofes diligentes
nos olhares
desembainhados das teias larvares
nos
arcanos pesares
na poesia como
casa forte.
Sou o
penhor de tudo o que me abraça
a bússola
esmaecida e, todavia, prestimosa
o húmus
rico
as rochas
duras que se dão ao peito
eu
sem fingimento
sem algozes
admitidos a concurso
só no
dorso das caravelas desenhadas
na intemporalidade
que se cinde num instante
(ou no
instante formulado em intemporalidade).
Colho dos
braços das árvores
a água
escassa, mas valedoura
e deito os
braços ao rio como se fossem remos
só para
tomar em meu colo
a mais
pura essência que sintetiza meu ser.
Sou feito
de uma
aurora boreal
original remate
da alvorada
hormonas
sem equação como rima
e sigo nas
asas do dia
um dia de
cada vez
no proveito
da vida inteira.