30.1.19

A fúria demitida

A dedução escrita na ardósia:
a fúria cabeluda
não é alimento que se veja.
É como submeter o crânio
à centrifugação de uma máquina de lavar
a centrifugação velozmente dolorosa 
– e a cefaleia prolongando-se para além do sono
na sucessão de dias condoídos.

Em vez da cabeluda fúria
e para desapalavrar o iracundo estado
antes ferroadas de abelhas em barda
uma colher de sopa de mostarda de Dijon
uma ópera bufa 
malparida por músico amador
a literatura dos gurus das almas
a esfusiante e, todavia, ardilosa alegria
irrompendo dos gurus das almas.

A dedução
escrita na ardósia
na rima dos violinos
na fervura do mar gentio
no insubstituível cais
onde repousa o pensamento.
O colo firme
onde se dissolvem os males inteiros
(fúria incluída).

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