Deixa-me uma metáfora
o aveludado rosnar entre vírgulas
o verbo lúgubre bolçando páginas evitáveis
no alpendre de onde se avista
o cais esquecido.
Permite-me a delicadeza
do favor não configurado
e no eclipse deixarmos a carne fervente
enquanto juram os ministros da lassidão.
Desconheço a matriz
o volúvel ponto de Arquimedes
a desconstrução de todas as construções
num baú de desperdícios em forma de comendas
e exasperados penhores das solenidades
em seu fulgurante despenhar.
Pudessem as auroras
tingir-se do amarelo do ouro
em fábricas abandonadas,
tecidas por artesãos senescentes,
e a provecta idade,
sucedâneo de uma perícia singular,
não seria o venal desperdício sem valor.
Deixa-me uma metáfora
a uso;
uma que seja o retrato claro
o tapete em forma de filigrana
o poema reduzido a um punhado de estrofes
síntese perfeita
do muito que ficou por dizer.
Uma metáfora:
do silêncio apalavrado.
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