21.1.19

Virtudes

Do leilão de apóstrofes
não se livram os apóstolos.
São as tendências da moda. 
Os apóstolos 
teimam na altivez
e discorrem, demoradamente,
sobre as virtudes da virtude. 
Arregaçam as mangas
e no conciliábulo de imperativos categóricos
ensaiam certezas à prova de bala. 
Fazem apostas entre si,
os apóstolos,
para estancar a hemorragia das ideias,
tão fecundos nas hipóteses de virtude
que candidatam ao lugar cimeiro
das virtudes. 
Digladiam-se uns com os outros
quando as lentes 
depuram virtudes em oposição. 
Outros corroboram-se mutuamente
na linhagem das mesmas virtudes,
apenas misturadas 
por divergências de pormenor ou de estilo. 

Oxalá
uns e outros
não tivessem de esbarrar
nuns exilados
uns reprováveis mastins que desalinham,
categóricos desmilitantes de tudo
que indeferem virtudes 
– indeferem as virtudes. 

Por um momento
até os apóstolos divergentes
convergem numa batalha farta:
dar luta sem quartel 
a esses desapoderados
essas más influências
demoníacas paisagens que convidam
à insurgência. 

Não contavam
com a heresia das virtudes
e sabem do sono hipotecado
só de saberem destes hereges. 
Num salto no tempo
temem a anomia
e, quais santidades vilipendiadas,
unem-se em aliança virtuosa. 

Meio caminho já foi andado
para o deserto das virtudes. 
Que não há de ser
degredo
(em negação dos virtuosos). 

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