Numerologia.
O código cifrado
devolvido ao punho esventrado
as cicatrizes amplificam a prece
no repatriado remendo da noite.
O chapéu inaugurado protege um pirata
e as rugas desenhadas
descem pelo rosto
colonizam o corpo inteiro
tecem o seu caudal,
assentam
fronteiras definitivas até ao arrancar da vida.
No espelho de um oito deitado
confirmo a irredutível finitude:
há cemitérios por todo o lado
e não consta
que alguém consiga ser foragido.
Antes que seja tarde
povoo a boca com perguntas irreparáveis
e dou às nuvens suavizadas pelo ocaso
um poema singelo
as palavras sem compromisso
a alvar figura cunhada ao entardecer
o verbo mutilado na angústia que desce
em manadas sitiadas pelo caos
sem rédea no coldre,
os fiordes mentais ditando sílabas
nas páginas juvenis que esperam pedagogia.
Antes que venha a tarde
na indeterminada convenção (da tarde)
e leve a maré para o basalto escondido
e pescadores sem escrúpulos
roubem a luz do farol
condenando navios
à orfandade.
Até que sejam contadas
as vinte e quatro horas de um dia
e a folha sequente hasteie ao vento húmido
a vontade de dizer presente
no pedestal dos avivados mestres da vida
em teclas de piano descendo seus dedos
no púlpito do verso acobreado
o avesso da noite sem luz
a escadaria íngreme
deitando a mão
ao que sobra da equação:
um relógio estilhaçado,
sábio.
Sem comentários:
Enviar um comentário