27.4.20

Avenida dos escombros à espera de desagravo

Não eram os punhais frios
que punham o sono em sobressalto.

Não eram os mudos medos
que saciavam as cicatrizes anuladas.

Não era o basalto aquecido
que furtava as lágrimas em inventário.

Não eram as angústias diletantes
que desembainhavam o corpo inteiro.

Não eram as injúrias à memória
que dispunham do tempo futuro.

Não eram os carris tartamudeados 
que inauguravam o despeito jurado.

Não eram as sibilinas noites furtadas
que devolviam o sono anestesiado.

Não eram as balas párias
que amedrontavam a feição ousada.

Não era a contumaz ofensa ao verbo
que descosia a gramática sem métrica.

Não eram os solteiros penhores da manhã
que açambarcavam a água fresca da fonte.

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