1.4.20

Tela

Era um tapete florido
as lantejoulas adejavam
como circenses mistérios
entre as sílabas da boca
e os latidos ciciantes das crias
enquanto esperavam pelo úbere.

Era um tapete florido:
as facas não entravam na casa
e a verosimilhança do antigo
era pano gasto
esquecimento adestrado na fala farta
no coloquial remendo das dores
enquanto a noite demorada se demorava.

E se as lantejoulas adejavam
o folguedo era instituição letrada
as estrofes iam e vinham com vagar
sem incomodarem a maresia da manhã
sem insultarem os maestros de cerimónias
entre duas páginas arrancadas
e um copo de vinho frio a compor a garganta.

Se eram circenses mistérios
entoavam-se os lamentos alvares
a constelação de ais e de uis
murmurados à boca do ouvido
para dos aperitivos colher a fazenda toda
e na pauta espalhar as palavras avulsas.

Pois às sílabas da boca
recolhia-se a medula do silêncio
o gorjear do poema vingado
como se à boca das crias
viesse o mantimento capital
servido por um ubere abastado.

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