24.4.20

O perpétuo ciciar

Eram olhares estranhos 
as avenidas vazias 
à espera de dia 
tornando-se as suas próprias esperas
entre a paragem do tempo
e a mordaça dos mastins.
Juntei as pedras avulsas 
mas não esperei
que as pedras falassem:
as paredes estavam vazias 
sem quadros 
mudas 
e a pele guardava o silêncio.
O vento irrompeu do nada 
pôs a vegetação a falar
a única fala  
que roubou o silêncio.
Era um tímido esgar 
o furtivo espelho esquecido,
uma banalidade.

Dizias:
não há problema 
a maldição distraíra-se 
e por fim
os ingénuos comeram à mesa.

Dizias:
bem me parecia 
que os males perpétuos
eram uma entorse ladina
uma conspiração contra si mesma.

Ao vagar das horas 
impérios com armaduras 
desfaziam-se em puídas estrofes
que nem de si diziam
loas que se vissem. 

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