7.4.20

O chão ensanguentado

O corpo desajeitado
emulsionava uma dança
enquanto a chuva ensanguentava
o chão túrgido.
Falava-se de tudo.
Falava-se.
E no coldre do silêncio
em fermentação vagarosa
as falas em verso sem medo
contemporizavam com os beócios,
um prolongado bocejo
aliterado na varanda dos lúcidos.

Não havia tempo para o tempo
e nem os gatos vadios
sabiam da liberdade,
entretanto.
No-la diziam munida de arestas
o ventre aberto às permeáveis cisões
para da voragem das tiranias 
ser protegida.

Não fiquei convencido.

Os prestimosos comandantes
que se alardeiam tutores da liberdade
fazem lembrar 
os que se enfatizam
contadores da verdade 
– de verdade –
como se fosse preciso
a quem conta a verdade
dizê-lo de viva voz;
sempre deles tive noção
de serem o contrário do que se apregoam.

A liberdade 
não se escreve com t.

E lá fora
enquanto a dança desajeitava prosseguia
nos preparos da solidão
e os gatos vadios estavam ausentes
a chuva ensanguentava o chão.
Mais ainda.

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