21.4.20

O vade-mécum

O grande sonho
era dar à estampa

(por assim dizer,
que ninguém dá 
graciosamente
o corpo ao manifesto)

um vade-mécum.

Só a conceber a empreitada
passou as sopas de tempo.
Já no dealbar da travessia
quando pressentia
os vapores da decadência
à estampa deu

(por assim dizer
e etecetera e tal)

o vade-mécum.

Não cabia em si de júbilo

(e não era 
por extravasar das medidas
que os prazeres da mesa
com a sedentária forma de vida
ditaram a obesa estatueta 
em que se tornara)

com o vade-mécum calhamaço
em harmonia
com a dimensão corpórea que lhe cabia.

Nunca chegou a saber
que não houve vivalma
das muitas
que despenderam renda na obra
a ler o vade-mécum 
de uma ponta à outra.

Não se importaria
se fosse dado a saber
desde o túmulo que o recolhia
que por vade-mécum
usava uma paronímia,
uma inconfessável paronímia, 
para aos outros encomendar 
um sibilino 
“ide à medra”,
destinatário impessoal
na pessoa da humanidade.

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