6.10.16

Águas furtadas

As mãos na terra
senti-la respirar entre os poros.
As mãos por dentro da terra
desenhando as figuras geométricas da manhã.
Por dentro da terra
sem medo de saírem imersas em negrume
das mãos nascem as veias rejuvenescidas
as veias que aprenderam com a alma da terra.
E as mãos não desistem do aroma da terra
remexem-na alarvemente
como se de uma hibernação viessem devolvidas
e famintas porfiassem.
As mãos insistem na terra
antes que a chuva tenha império
e desfaça os desenhos sem fronteira
lavando o pecúlio de um gesto.
Tiro as mãos da terra.
As mãos negras
as mãos reaprendidas
as mãos adultas.
As mãos.
E escrevo
em pauta de argila
as estrofes crepusculares
de uma espada cintada com a lua 
bordada a prata.

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