18.10.16

O compasso do mundo

Por mais voltas que o mundo dê
atiro-me às searas nascentes
como a água para os sedentos vãos
embelezo-me com tintas puras
corto das árvores as urdiduras infectas
dou folguedo em dias sem calendário
distingo os lugares com moldura
em vez da monotonia de uma hibernação.

Dê as voltas que o mundo der
desaprovo foros da jactância
destrono bestiários vindos das trevas
desalinho estrelas que bebem desordem
dispenso patriarcas conselhos de anciãos
desencomendo vendas para os olhares
desencravo portas enferrujadas
destravo rodas pendidas sobre o abismo
descoloco mapas afinados em parafina.

Em todas as voltas em que o mundo se insinua
venho ao mar receber o sal das divindades
aplaudo trovadores dos mundos anónimos
cozinho músicas no alpendre do luar
apanho comboios sem destino aparente
pergunto às pessoas se me podem sorrir
danço sem saber dançar
e povoo a tela diante do olhar
com petitas apanhadas no restolho das árvores
enquanto sussurro ao ouvido de um cavalo
que as mãos da terra apanham caminhos jurados.

Contando todas as voltas ensaiadas pelo mundo.

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