E
se as palavras doces
só
fossem escritas em ardósia?
E
se os sorrisos abertos
só
fossem provimento do outono?
E
se as mortes serenas
só
fossem caução noturna?
E
se as moedas com trato
só
fossem tradição fiduciária?
E
se a confiança esteio
só
fosse raiz sem impurezas?
E
se os dias contados
só
fossem um rol de alvoradas frias?
E
se os cães não vadios
só
fossem vadios por falta de alimento?
E
se as armas letais
só
fossem arqueologia?
E
se os abraços de ternura
só
fossem rotina?
E
se os rios pujantes
só
fossem bênção na aridez algures?
E
se deitar no sono
só
fosse a comiseração dos sonhos?
E
se as teclas de um piano
só
fossem o lastro de um poema?
E
se as gavetas arrumadas
só
fossem ruas por onde se arruma a desordem?
E
se a ausência de um algures
só
fosse irrelevante lugar num mapa?
E
se a letargia contagiante
só
fosse o adiamento do tempo?
E
se as medas que se juntam num museu
só
fossem um testamento?
E
se a estatura meã
só
fosse a mentira das médias?
E
se porfiar um amanhã
só
fosse a mais pura das inutilidades?
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