11.10.16

Perguntas de retórica

E se as palavras doces
só fossem escritas em ardósia?
E se os sorrisos abertos
só fossem provimento do outono?
E se as mortes serenas
só fossem caução noturna?
E se as moedas com trato
só fossem tradição fiduciária?
E se a confiança esteio
só fosse raiz sem impurezas?
E se os dias contados
só fossem um rol de alvoradas frias?
E se os cães não vadios
só fossem vadios por falta de alimento?
E se as armas letais
só fossem arqueologia?
E se os abraços de ternura
só fossem rotina?
E se os rios pujantes
só fossem bênção na aridez algures?
E se deitar no sono
só fosse a comiseração dos sonhos?
E se as teclas de um piano
só fossem o lastro de um poema?
E se as gavetas arrumadas
só fossem ruas por onde se arruma a desordem?
E se a ausência de um algures
só fosse irrelevante lugar num mapa?
E se a letargia contagiante
só fosse o adiamento do tempo?
E se as medas que se juntam num museu
só fossem um testamento?
E se a estatura meã
só fosse a mentira das médias?
E se porfiar um amanhã
só fosse a mais pura das inutilidades?

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