13.10.16

Na medida do impossível

No esquadro das possibilidades,
sonhador de cais desembalsados
porfio entre as nuvens de chumbo.

Não desisto
nem que se abatam as paredes sombrias
ou um tira-teimas se jogue contra
ou abutres famintos espreitem sobre o ombro.
Congeminam-se
os palcos atípicos num inverno mendaz
com os mendigos exasperadamente inertes
(como se estivessem de espada embainhada
capitulando a norte).

Não quero saber
das cores desembaciadas
nem das pontes altivas que enlaçam diferentes
nem as terrinas de ouro tão cobiçadas.
Não me importam
estorvos contumazes
médicos sobranceiros
narcísicos com apoplexia dos holofotes
ou eruditos eivados de invencibilidade.

Ambiciono
o doce travo do impossível
ter um oráculo de impossibilidades
e vê-las transfiguradas no possível.
Sem cair à cama doente
se elas não forem fogueira incensada
nem dormir na perenidade do tempo
no acaso de as impossibilidades se confirmarem.

Nada me tira o prazer incontestável
de desenhar impossibilidades.
Sim
podem dizer
sou um iconoclasta das impossibilidades.

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