14.10.16

Puro

Temos a fome da lua grande.
Apanhamos os frutos maduros.
Bebemos o vinho altivo em cálices finos.
Devemos ao mapa viagens mútuas.
Retiramos das árvores folhas caducas.
Olhamos para o mar sem fim.
Dançamos em singelos passos uníssonos.
Gravitamos nas nuvens brancas.
Espalhamos a ternura que é genética.
Somos outono em prefácio da primavera.
Deciframos os idiomas sombrios.
Cozinhamos com os dedos ungidos.
Amanhecemos no pináculo do sono sem sono.
Dizemos as estrofes diamante.
Suplantamos os estorvos do tempo.
Sonhamos o chão despido sem pés.
Chamamos os sussurros cantantes.
Vestimos os olhos com a equação de um poema.
Juntamos as mãos numa sentença leal.
Despimos os medos em contos singulares.
Assinamos o livro de ouro em linhas vazias.
Deitamos o corpo cansado no corpo vizinho.
Exaurimos a frágil agonia.
Dessabemos os pretendentes a algoz.
Cantamos a pura melodia apurada a dedo.
Somos.
Um amor sem medida.
Um amor levitando na aurora clara.
Um amor saltando sobre o tempo.
Um amor sem peias.
Um amor.
Somos.

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