9.10.16

Canto do cisne

Epílogo.
A última gota do mar
a desmaiar na areia molhada.
O último gole de ar
antes de a água sem freio
engolir a respiração.
A última prestidigitação
antes de cair a máscara
ao farsante.
A última coisa que se é
antes de um vendaval intempestivo
tudo deixar sem serventia.

Ou apenas um cisne a cantar
sem causalidade que haja
com os pretéritos exemplos.
E o cisne vagueia,
leve e livre,
sobre as águas seu domínio
garganteando um canto nada lírico.
Sendo cisne.

A julgar
pela sabedoria ajustada pelas convenções
o canto do cisne é o seu epílogo.
Pois não cantem os cisnes
em segredo não revelado da perenidade.
Ou então
desfaça-se em despojos sem utilidade
o que sobrar da convencionada sabedoria.

E deixem os cisnes cantar
na sua leveza e liberdade
que eles amestram a paisagem bucólica.
E deixem todos os fins de histórias
desacorrentados de estultas imagens,
apenas sê-lo
fins de histórias.

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