Uma légua de caminho
a paisagem atarefada desfila pela janela
e o troar do comboio toma lugar
no mapa dos ruídos.
Uma mulher desconchavada cambaleia
contra os solavancos do caminho.
Dir-se-ia,
contrariada
aprisionada no comboio e ao seu destino.
Os olhos cansados procuram refúgio
por dentro das pálpebras.
O maquinal troar do comboio não deixa.
A paisagem é vertiginosa.
Leva consigo o sono vadio.
É como uma viagem pelo tempo
e a roda do tempo que passa,
voraz.
Já diziam os sedentários:
estultas são as viagens
quando um pedaço de paraíso se prende
à bainha das calças.
Discordo.
As calças atadas ponteiam os pés ao chão
o pensamento perde em antiguidade
os olhares ficam em dívida dos seus múltiplos.
O estorvo dos lugares mesmos
pede mapas e viagens e paisagens
numa cornucópia de lugares,
contrariando exíguos, ermos lugares
onde o corpo padece em sua avareza.
Lembrando
para memória futura
que a madurez se entretece
na miríade de lugares.
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