23.1.18

A casa

A casa sem pejo
no sobressalto das vinhas
preparada para arrefecer a ira
grita contra as sombras do entardecer
enquanto os estorninhos regressam ao ninho.

Os vassalos sem guarda
não sabem do paradeiro da noite
tropeçam nos socalcos sem eira
perdidas as candeias a preceito
em seu olhar transfigurado em melancolia.

A curva do rio
deixa à mostra a quimera
um romance em forma de paisagem
nos versos destemidos do orvalho matinal
à espera do sol complacente.

Na casa há poejo
e o perfume incendia o ar
nas labaredas que desenham as paredes.

Na casa há uma solidão
e o silêncio que se ouve
nas muralhas longínquas onde se vê o mar.

Na casa sentem-se as mãos atadas
à medida que o solstício canta às raposas
odes de vazias estrofes.

Na casa vivem os mananciais
a merenda sumptuosa
estendida em toalha senhorial.

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