Morde-me
esta intuição
prisão dilacerante
uma terrina
estilhaçada como palco
e os pés
feridos nos despojos lançados.
Arranjo coragem
para o longo estio
e nem a
sombra contumaz
chega a
ser sombra
desmentindo
os argonautas pueris
e o mar precoce.
No vetusto
banco do jardim
calcinado pela
ferrugem do tempo
sentamo-nos
lado a lado.
Olhamos
olhamos em
redor
e para as
copas das árvores
à espera
de perderem a vergonha da nudez.
Somos a
alvenaria constante
os azulejos
cintados numa constelação de cores
a palavra-viva
contra a matéria-morte
a palavra
que dispensa contratos
o contrato
de cimento armado na pele ávida.
Nas mãos
amplamente abertas
guardamos
em segredo o estirador,
nosso
salvo-conduto.
Somos:
sem a
desmedida função
de não
sermos o que não queremos.
A noite
invadiu tudo
mas ainda
vamos a tempo
da sessão
da meia-noite.
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