8.1.18

Desapalavrado (o interior)

O apeadeiro sem paradeiro
limalha rejeitada no caudal seco
fotografia a preto e branco
da paisagem a preto e branco.
Fugiram,
as pessoas,
no desolador teatro sem espetadores
nem sequer atores:
sobram as peças enferrujadas
em seu ranger ciciado pelo vento.
Sobra o silêncio
o estridente silêncio.
E até o vento tem a cor embalsamada
no amontoado gutural de desperdícios.
A um canto
uma floreira resiste.
Os jacintos frondosos hasteiam um sorriso
contra a implacável congeminação dos ascetas
o rio caudaloso que recua para a nascente
as trovoadas devolvidas às nuvens-bigorna
a vontade sitiada.
Não contam os lamentos:
não há vozes para os recitar.
E até as teias de areia são escombros
no infértil apeadeiro.

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