15.1.18

Métrica

No meio de um nada
as mãos estruturadas desviam as cortinas
uma fileira de árvores varridas pelo vento
e a penumbra dos girassóis deitada no chão.

O costume açambarcado
contra os estouvados feitores da insubmissão:
protestam:
não se cuida dos rostos despojados
nem se tira o sal às palavras
nem sequer às malditas.

Um maestro deambula
sozinho.
O olhar perdido
desembainhando a melancolia dir-se-ia perene
vendo o cabisbaixo maestro
como se fosse ao chão
atirar as cinzas em que se consome.
No frugal encontro do dia
à mercê do majestoso quadro à janela
a falésia bordejada pela maresia
enquanto espera pelo luar jurado.

Não esperem pelo espartano coalhar das violetas
não esperem que a alegria venha a tiracolo
de personagens datadas:
antes esperar pelas esperas sem passagem
turvadas pelo avesso das veias
cotejadas com as musas sem rosto
capazes de estrofes sem fim,
de esperas sem fim.

No cabo com varanda para o largo mar
de onde apenas o mar se tem por paisagem
respira-se um ar infinito:
dir-se-ia
a caução para a entronização nunca esperada.
Como se o sítio fosse o marco geodésico
onde exorcizados se dissipam assombrações.

Tiro do lúgubre passeio dos desapossados
o paradigma do tempo desnatado.
Cobro, por isso,
o dobro às extremidades ciciadas pelo vindouro
desmentindo-o no suor do corpo.

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