30.1.18

Irmandade

Embebidos espíritos de pertença
na proteção dos da casta
– oh! louvável sacrifício
generosidade desarmante
desde os primórdios da gesta
em meneios arcanos
o círculo restrito em ciclo vicioso
– e aos de fora,
o cilício
ou uma cápsula de cianeto
com o selo da exclusão.

Arautos da identidade
areópagos da coletiva pertença
emulsionam as probidades da casta:
pois pertencemos sempre a algo
e o algo que é titular nosso
é nossa garantia de réditos fartos.
Proclamam as figuras venerandas,
mostruários da gesta assim protegida
num enredo não só semântico,
que as prebendas provam o fático suco
da pertença assim assinalada.

Ai de quem invetivar a irmandade,
ó canhestra ousadia,
que logo os mastins se soltam em iracunda caça
para devolverem os predatórios ao ultraje
de onde não deviam ter permissão para sair:
o dedo apontado,
o supremo opróbrio
caindo sobre seus humilhados dorsos
e o isolamento sem remissão.
Não sem findar a questiúncula
com pejorativo rótulo pespegado aos dissidentes
aos que o topete tiveram
de blasfemar contra a irmandade:
“sociopatas”.
Juntando,
se a preceito vier,
julgamento sem pronúncia em oposição
sobre
os maus hábitos
as más companhias
as más palavras
as más decisões
a má estética
mas sobretudo
sobre o infortúnio da sociopatia.

Rematam com a comiseração 
que têm por própria dos generosos
abrindo a porta da irmandade
(com a condição prévia da desculpa humilhante)
aos tidos por tresmalhados.
Ah!
prendada longanimidade dos confrades
auto estetas da irmandade
assertivamente adivinhando
o interesse dos proscritos 
em deixarem de o ser.

Escapa-se-lhes a irremediável condição
autistas eles,
irremediáveis também,
não sabendo
que a sociopatia é imorredoira.

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